Pelo direito de SER – não importa o que


Estou aqui para lutar por alguns direitos, principalmente pelo de ser. E ser não importa o quê. Estou aqui para criticar as críticas e julgar como errado aquele que julga – mesmo não acreditando que o certo e o errado existam de verdade. Não estou aqui por mim, estou aqui por nós. Não defendo os fracos e oprimidos, defendo os fortes e corajosos: esses que são o que são. Estou aqui, portanto e como já disse, pelo direito de ser.
“Penso, logo existo” já foi por água abaixo e estou aqui para denunciar aqueles que acham que “Vivo, logo sou”. Não, meus caros, não são todos os seres viventes que têm essa extraordinária capacidade de ser. Alguns se escondem nas penumbras... E tenho pena desses miseráveis! Não estou aqui para lutar pelos direitos dessas pessoas: elas já concederam a si mesmas direitos demais.
Ser é algo muito complexo. É preciso coragem para ser! Coragem, inteligência, amor-próprio e uma pitadinha de medo. Sim, quem é o que é tem muito medo... Esses seres têm muito medo de perder o que são, de perder sua essência e não poder nunca mais se encontrar. Eles têm muito medo de perder a capacidade de sorrir e de amar. E é por esse medo que desenvolveram uma maneira tão singular de ser: eles só vivem pela felicidade! E sem essa de “o mundo seria um caos se todos fossem assim”. Na verdade, ele seria bem melhor: as pessoas seriam livres de si mesmas e felizes. Amariam a si mesmas, portanto não precisariam externalizar a sua podridão interior – essa que vem da não aceitação. As pessoas não seriam violentas, porque não precisariam disso. Tudo isso e muito mais, quando aliados àquele sorriso de orelha a orelha que as pessoas passariam a exibir por aí, aniquilaria todos os nossos problemas! Não precisaríamos nunca mais nos preocupar com ganância, maldade e sentimentos dessa estirpe maligna. Não teria por que guardar tanta ruindade dentro de si! Seriamos livres como pássaros! Você pode imaginar que beleza?
Quem são esses, então, que eu tanto defendo? São os gays, as lésbicas, as prostitutas, os macumbeiros, os satanistas. São também os padres, as santas, os professores, os judeus, os roqueiros e os funkeiros. São as mulheres que transam com quem bem entendem e as que não transam com ninguém: são as mulheres bem resolvidas que sabem o que querem e fazem o que as faz felizes. São os homens que resolveram amar uma e os que resolveram amar várias – desde que elas saibam disso. São os vagabundos que escolheram não trabalhar (porque isso os faz felizes) e os que escolheram lutar para subir na vida (porque isso também os faz felizes). São aqueles que assumem não ter religião, aqueles que sabem todas as orações décor e salteado e aqueles que acendem velas pretas em um cemitério. São os de esquerda e os de direita: os conservadores e os rebeldes. São todos esses que assumem o que são e que não fazem de si mesmos um retrato.
O que quero dizer com fazer de si mesmo um retrato? Ora, vejamos. Algumas pessoas são como argila: moldáveis. Os valores com que fomos criados, a sociedade que nos pressiona a ter certas atitudes, a mídia, os amigos... Todos esses fatores vão pintando uma tela nessas pessoas. Elas viram um retrato bem quadradinho e aceitável. Lamento a falta de imperfeições... A imperfeição é tão bela!
É isso mesmo: defendo o direito de ser imperfeito. Esse que todos temos – ou deveríamos. Defendo o direito de ser o que se é e não o que se quer que seja. Defendo o direito de ir contra a corrente. Defendo o dever de não julgar, afinal, cada qual é cada qual, o certo e o errado são subjetivos e as coisas que trazem felicidade, também.

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